12 de março de 2005

Mulheres socialistas revoltadas com Sócrates

Primeiro-ministro diz que as mulheres socialistas não têm protagonismo político e técnico para fazer parte do Executivo.

José Sócrates, que esta manhã toma posse como primeiro-ministro, considera que não existem no Partido Socialista (PS) mulheres com suficiente protagonismo político e técnico para integrarem um elenco governamental. Isto mesmo foi dito por Sócrates a alguns dos elementos do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas (DNMS), numa conversa informal, na passada quarta-feira, dia 9, no final de uma reunião do conselho consultivo daquele órgão, realizada na sede do PS.
Segundo relatou ao PÚBLICO Ana Sara Brito, militante histórica do partido, que presenciou o encontro com Sócrates, as mulheres confrontaram o primeiro-ministro com o défice de representação feminina no Governo - existem somente duas mulheres, independentes, titulares de pastas ministeriais (Educação e Cultura). De acordo com a socialista, Sócrates começou por afirmar que a constituição do Executivo era uma "decisão pessoal" e que as mulheres "não sabiam a dificuldade que é formar um governo". Mais: "Para se ser do Governo é preciso haver confiança e confidencialidade", contou Ana Sara Brito, parafraseando Sócrates. Instado sobre se considerava que não existiam mulheres competentes nos quadros do PS, o primeiro-ministro declarou ainda que cabia ao DNMS recrutar para o partido "mais mulheres competentes". As socialistas ripostaram, questionando-o se classificava, então, as militantes como incompetentes. Sócrates rectificou as suas palavras, sublinhando que não era sua intenção chamar-lhes incompetentes. Até à hora de fecho desta edição, o PÚBLICO tentou, através da sua assessora de imprensa e do porta-voz do PS, Pedro Silva Pereira, falar com o primeiro-ministro, mas não obteve resposta. O episódio provocou uma incomensurável indignação junto das socialistas, explicou Ana Sara Brito: "As mulheres reagiram muito mal e foram saíndo. Eu também saí." Ao PÚBLICO esta militante, membro do DNMS, admitiu sentir-se "humilhada com o comportamento" de Sócrates, apontando que as declarações do secretário-geral revelam um "comportamento machista e serôdio". "Ao fim de 30 anos nunca esperei ouvir isto no PS", frisou, acrescentando que as socialistas interpretaram as palavras de Sócrates como uma "ofensa tremenda" e uma "profunda desconsideração intelectual". "Fiquei profundamente magoada e fui ofendida pelo secretário-geral enquanto mulher e enquanto feminista", disse.Para Ana Sara Brito, Sócrates "não respeitou" o DNMS e para tal terá contribuído a "estratégia falhada" da presidente do departamento, Sónia Fertuzinhos. Numa reunião do conselho consultivo, Fertuzinhos foi confrontada com o facto de ter cedido ao secretário-geral do PS, ao aceitar integrar a lista de candidatos a deputados pelo distrito de Braga num lugar não elegível. Ana Sara Brito defendeu que Fertuzinhos "não devia ter aceite lugar nenhum" e que "devia ter entrado em ruptura" com Sócrates. Até ao fecho desta edição, o PÚBLICO tentou contactar, em vão, a presidente do DNMS."Mais representativo da igualdade"O facto de o novo Executivo apresentar somente duas mulheres num universo de 16 ministros suscitou as críticas de diversas dirigentes socialistas, que lamentaram a circunstância de o Governo estar "aquém das expectativas", como disse ao PÚBLICO a eurodeputada Edite Estrela. Vice-presidente para a Igualdade de Género no Parlamento Europeu, esta indefectível apoiante de Sócrates, de quem é amiga há muitos anos, assumiu que "gostaria que houvesse uma maior representação feminina no Governo". Aludindo à "experiência espanhola" - José Luis Zapatero constituiu um governo paritário -, Edite Estrela admitiu que "não seria expectável que se fosse tão longe". Contudo, "gostaria que o Governo fosse mais representativo da igualdade". Também a deputada Celeste Correia, apoiante de Sócrates desde a primeira hora, lamentou a parca participação feminina no Governo: "É um retrocesso nos sinais positivos que foram dados. Não posso bater palmas, porque estava à espera de um maior número de mulheres." Quem também viu as suas expectativas goradas foi a recém-eleita deputada Teresa Alegre Portugal, que disse ao PÚBLICO sentir "pena" da quase ausência de mulheres no Executivo. A deputada frisou que as pastas da Educação e da Cultura "são muito importantes", mas não deixou de apontar que "são aquelas que tradicionalmente são atribuídas às mulheres". Teresa Alegre Portugal realçou ainda que esta composição governamental "é contraditória" em relação aos "critérios que José Sócrates impôs para a criação das listas de deputados". Ex-ministra da Igualdade no segundo mandato de António Guterres, Maria de Belém Roseira justificou a ausência de paridade com o "afunilamento na entrada das mulheres para a política". Para a deputada socialista, existem "menos mulheres com notoriedade" e, "quando chega a altura de formar governo, acaba por ser difícil encontrar mulheres conhecidas". Maria de Belém Roseira diz aguardar uma "mudança radical a curto prazo", que poderá ser produzida através de "pressões" denunciatórias desta desigualdade. Ana Benavente, por seu lado, disse ao PÚBLICO que nunca sentiu "tanto machismo e mesmo misoginia" na política portuguesa. Para a ex-secretária de Estado da Educação, que considerou como "absolutamente lamentável" a escolha de apenas duas ministras, o Executivo de Sócrates é "uma ocasião perdida do ponto de vista da paridade". Isto porque, explicou, quando há preocupações com a "qualidade da democracia", é necessário "pôr de pé os problemas que estão na base dessas dificuldades". Benavente disse que a inclusão de apenas duas mulheres no Governo "é um insulto" às socialistas, sempre "tidas como intrusas e voláteis". A questão da paridade foi destacada nos programas das candidaturas de Manuel Alegre e de João Soares à liderança do PS. No caso de Alegre, o tema foi mesmo nomeado como uma prioridade na "acção do futuro governo socialista". Ontem à tarde, contactado pelo PÚBLICO, Alegre escusou-se a fazer comentários ao elenco governamental, maioritariamente masculino: "Agora não falo." João Soares limitou-se a afirmar que "é sempre desejável que haja equilíbrio no Governo", mas preferiu não se alongar em mais comentários "nesta fase do campeonato". "Aquilo que posso fazer é desejar bom trabalho e boa sorte", concluiu.

(http://publico.clix.pt/shownews.asp?id=1217971&idCanal=25)

é por estas e por outras q me sinto feliz por não ter contribuído para a maioria absoluta do PS... se isto é uma Esquerda justa e equilibrada, com igualdade de direitos... eu vou ali e já venho... e acho que entretanto, numa recaída mais forte, recupero o meu cartão de filiada da JP... (a ver se não chego a tanto!...)

1 comentário:

Nelson Fraga disse...

recuperar o cartão antigo?... andar para trás é que não!! há um partido sem J's à tua espera!! :p continuação de boas férias!! * * * *