... advogada.
Desde miúda que sempre quis ser advogada. Quando andava na escola primária, fazia-se todos os anos um livro com as fotos e dados de todas as crianças que estudavam no colégio, e nesses dados incluía-se também o que queríamos ser quando crescêssemos. Muitos potenciais futebolistas, cabeleireiras, astronautas... E eu: advogada.
À medida que os anos foram passando raramente tive dúvidas acerca daquilo que queria fazer da vida, se bem que a dúvida maior tenha surgido precisamente no momento mais crítico: na altura de me candidatar.
Depois de confusões, dilemas existenciais, um curso de que desisti, e uns anos a trabalhar, entrei finalmente naquilo em que sempre quis entrar.
Acho que, precisamente por (quase) sempre ter querido entrar em Direito, isso aumentou a pressão. Quando interiorizei que ia mesmo entrar, tive muito medo, medo de não ser o que estava à espera, medo de descobrir outra vocação, medo de simplesmente não ser capaz.
A verdade é que, decorridos dois anos inteiros em Coimbra, em início do terceiro, as dúvidas ainda me assaltam.
Quando vejo as notas miseráveis, as injustiças por parte dos professores, os chumbos impensáveis, a desorganização administrativa e a ridícula inépcia pedagógica que se vive quotidianamente na mais antiga faculdade do país e uma das mais antigas e prestigiadas da Europa, pergunto-me o que eu, e mais uns quantos, andamos lá a fazer.
Não faltam relatos de falhas abismais, de ilegalidades - sim, ilegalidades, numa Faculdade de Direito.
Quantas e quantas vezes isso já não me tirou a vontade... E me deu uma nova, a de mudar, de sair.
Por outro lado, em pleno século XXI, em que tudo é demasiado rápido e "para ontem", torna-se quase frustrante um curso tão teórico, que quase sobrevive à custa de doutrinas e divergências doutrinais, que se esquecem no momento em que se sai pela última vez pela Porta Férrea.
No balanço que faço, chego à conclusão que nunca deixarei de ter dúvidas. Aos 23 anos, ainda não sei o que quero ser quando for grande.
Mas sem dúvida não me arrependo, de maneira nenhuma, de ter escolhido esta Faculdade e, por arrasto, a mais antiga Associação Académica do País.
Experiências de vida, olhares sobre o dia-a-dia, que, tal como sucede em qualquer parte do país, não se repetem em mais sítio nenhum.
Em Coimbra ama-se, conhece-se, cresce-se, sofre-se, sente-se que uma semana corresponde a um mês "normal", em Coimbra vive-se!
E em Coimbra sei que, mesmo que não perceba a 100% o que quero fazer no futuro, hei-de levar tantas lições quantos os dias que lá passo.
E para já...
Quando for grande, quero ser advogada :)